Origens da Cortiça

A cortiça, matéria-prima que coloca Portugal na liderança de um sector a nível mundial, é a casca do sobreiro, ou Quercus suber, uma árvore que se desenvolve um pouco por todo o país, mas com maior predominância a Sul, e que vive em média 200 anos.

Crê-se que o ponto inicial para a disseminação desta espécie tenha sido o ocidente de Itália, mais concretamente a região do mar Tirreno, na Era Terciária. A árvore foi-se deslocando mais para ocidente, tendo fixado morada em Portugal, nas regiões espanholas da Estremadura e Andaluzia, na costa mediterrânica de Marrocos, e ainda, embora de forma mais pontual, na Sicília, Calábria, Argélia, Tunísia, Sardenha e Córsega.

Foram feitas, ao longo da História, diversas tentativas de a implantar em outros continentes, como o americano e o asiático; mas independentemente de algumas das regiões contarem com o enquadramento climático adequado à sua permanência, o sobreiro parece ter optado por manter o Mediterrâneo como morada única.

Ainda antes de Cristo, já inúmeros povos conheciam as potencialidades da cortiça, existindo registos da utilização deste material em diversos objectos do dia-a-dia na região circundante ao Mediterrâneo.

No Antigo Egipto, a matéria-prima do sobreiro era utilizada como utensílio náutico e de pesca. Chegou também a ser aplicada em solas de sandálias – o que sucede ainda hoje, milhares de anos depois. Em Roma também se valorizava o leque de potencialidades deste material: o Império de César recorria à cortiça como isolante térmico, revestindo telhados e tectos. Aplicava-a também como vedante em ânforas destinadas ao transporte de líquidos.

Ao longo da Idade Média salientou-se uma vez mais a aptidão térmica deste material, com a sua aplicação em paredes de aposentos monásticos no sentido de proteger os seus habitantes das vagas de frio do inverno e de calor do verão. No período dos Descobrimentos, a cortiça foi utilizada nas caravelas portuguesas; desde o início da exploração do Espaço, é a solução de isolamento eleita pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (ESA), integrando naves e foguetões de vários programas e missões, incluindo a Apollo XI, que levou o Homem à Lua pela primeira vez.

Nas últimas décadas as potencialidades da cortiça têm-se multiplicado, expandindo para novos territórios a sua aplicabilidade através de um desenvolvimento fortemente promovido pelo trabalho de pesquisa e investigação de empresas como a Corticeira Amorim.

Características

A cortiça, que corresponde à casca do sobreiro, é um tecido vegetal natural e renovável. De facto, após a extracção da cortiça, o sobreiro regenera a sua casca, pelo que o descortiçamento não põe em risco a saúde da árvore, antes potencia a sua vitalidade. Este material pode ainda ser integralmente reciclado, mesmo depois de utilizado; e é completamente biodegradável.

Cerca de 45% da composição química da cortiça corresponde a suberina, componente que lhe garante uma grande elasticidade. O restante compõe-se de lenhina (27%), uma macromolécula com capacidades de isolamento; polissacáridos (12%), responsáveis pela atribuição de textura; taninos (6%), que lhe conferem cor; e ceróides (5%), que asseguram a sua impermeabilidade. Esta combinação permite à cortiça apresentar um conjunto de características que a tornam única.

  • Impermeabilidade
    A presença de suberina e ceróides nas paredes das células garante à cortiça uma impermeabilidade quase total a líquidos e gases. Esta característica permite-lhe também envelhecer sem se deteriorar.
  • Isolamento térmico e acústico
    A cortiça tem baixa condutividade ao calor, ao barulho e à vibração, uma vez que os seus componentes gasosos se encontram dentro de pequenos compartimentos isolados uns dos outros por uma substância resistente à humidade. Não existindo ligação entre eles, a condutividade é muito inferior à de outros materiais, o que faz da cortiça um aliado no combate ao ruído e às alterações de temperatura.
  • Resistência ao fogo e a temperaturas elevadas
    A cortiça é um retardante natural do fogo, que queima sem gerar chama e não emite gases tóxicos durante a combustão. Nesse sentido, os montados – florestas de sobreiros – são relevantes no combate a incêndios nos ecossistemas em que florescem.
  • Resistência à fricção
    A cortiça é extremamente resistente à abrasão e tem um alto coeficiente de atrito. A sua estrutura em forma de colmeia garante-lhe elevada resistência ao impacto quando em contacto com outro material. A resistência da cortiça ao impacto é superior à de qualquer superfície rígida.
  • Elasticidade, compressibilidade e resiliência
    A cortiça pode ser comprimida até cerca de metade do seu volume inicial sem comprometer a forma original, à qual regressa quando é descomprimida. Se for comprimida de um lado, a cortiça não aumenta de volume no outro, constituindo, por isso, um material que se adapta mesmo a contextos de mudança de temperatura ou de pressão.
  • Hipoalergénico
    A cortiça não absorve o pó, o que a torna uma boa aliada no combate às alergias e aos surtos de asma. A sua constituição é fixa, pelo que é um material extremamente confiável.
  • Confortável e suave ao toque
    Apesar de contar com uma textura irregular, a cortiça é suave e flexível, o que a torna agradável ao toque. Hoje em dia é possível escolher entre uma multiplicidade de acabamentos, existindo soluções de cortiça menos rugosas e igualmente suaves.
  • Leveza
    Cerca de 60% da composição da cortiça é ar, o que faz com que este material pese apenas 0,16 gramas por centímetro cúbico.

Usos e Aplicações

Ciente das inúmeras potencialidades da cortiça, recurso natural inimitável pelo Homem, a Corticeira Amorim tem vindo a construir um portefólio alargado e diversificado de produtos e aplicações deste material. O facto de contar com um conjunto de características verdadeiramente incomum – da leveza à capacidade de insonorização e isolamento térmico – tem permitido à cortiça afirmar-se como uma matéria-prima de grande valor para as mais variadas indústrias a nível nacional e internacional.

O uso mais recorrente destina-se, naturalmente, às rolhas para garrafas de vinho; mas o investimento da Corticeira Amorim em pesquisa, desenvolvimento e inovação tem possibilitado a sua aplicação em áreas e sectores bastante diversificados, como os transportes férreos ou barragens. A indústria de transformação da cortiça está em constante reinvenção graças ao carácter intrinsecamente camaleónico deste recurso natural.

Por entre as inúmeras aplicações possíveis, encontram-se soluções para:

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SECTOR VINÍCOLA

A Cortiça e o Vinho

É ao vinho que a cortiça é geralmente mais associada. O recurso a este material no sentido de vedar recipientes de transporte de vinho remonta ao século III a.C., mas foi no século XVII, graças ao trabalho de monges, como Dom Pérignon, na região de Champagne, que se deu o acontecimento que viria a enraizar a associação imediata entre os dois universos. Célebres pelo vinho produzido, mas descontentes com os vedantes utilizados à época, compostos por madeira envolta em cânhamo e embebidos em azeite, procuraram uma solução mais estável, que se mantivesse fixa na garrafa e que não interferisse no estado de conservação do vinho. A cortiça foi a opção vencedora – e desde então o sector não prescinde deste material.

Rolhas de cortiça

O sucesso da cortiça neste campo deve-se à complexidade da sua estrutura, que nenhuma tecnologia artificial foi ainda capaz de reproduzir. O facto de a cortiça regressar sempre ao seu volume original, após compressão, permite que as rolhas se adaptem ao gargalo e que o vinho permaneça bem vedado. Pelo facto de grande parte da sua composição corresponder a gás, as rolhas de cortiça permitem também a entrada de pequenas quantidades de oxigénio, elemento essencial para a saudável evolução do vinho. As rolhas de cortiça protegem ainda a bebida das variações de temperatura e de contaminações ambientais e impedem a sua deterioração.
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INDÚSTRIA AEROESPACIAL

Sistemas de Protecção Térmica

Desde os primórdios da exploração espacial que a Corticeira Amorim tem sido parceira da NASA (National Aeronautics and Space Administration) e da ESA (European Space Agency) contribuindo com as melhores soluções de isolamento térmico construídas à base de cortiça. Na década de 1970, o Projecto Viking da NASA contou com cortiça no exterior dos foguetões, preparada para resistir ao atrito e às elevadas temperaturas, e assim proteger os astronautas das condições extremas associadas à travessia da atmosfera (as temperaturas podem chegar aos 1500ºC).

Membro integrante da família de foguetões Ariane, o Ariane 5, lançado entre 2005 e 2015 pelo European Launch Consortium, contou com cortiça no seu isolamento térmico e suporte ao sistema de separação de componentes. Do mesmo modo, o Vega, foguetão lançado pela ESA em 2012, contou com cortiça fornecida pela Corticeira Amorim nas zonas de maior exposição a temperaturas elevadas.

Cortiça em escudos térmicos ablativos. Foguetão Vega © 2017 European Space Agency

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SOM

A Cortiça e a Acústica

A cortiça é frequentemente utilizada em estúdios de som e salas de música devido às suas capacidades de isolamento acústico. Pode ser aplicada no chão, nas paredes e no tecto, quer à vista quer coberta por outros materiais, e exerce uma diferença extraordinária no que toca à redução dos níveis de som que passam para o exterior.

No sentido de potenciar esta virtude da cortiça, a Corticeira Amorim desenvolveu a gama Acousticork, dedicada à aplicação do material em projectos de construção que pretendam diminuir o impacto sonoro do uso do espaço. A aplicação de soluções de cortiça na construção de grandes edifícios como hotéis, centros comerciais, ginásios e parques subterrâneos, possibilita também a redução da vibração e garante ainda uma maior estabilidade a nível de temperatura.

Hotel Four Seasons, Bangkok © Country Group Development Public Company Limited

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DESIGN E ARQUITECTURA

Metamorphosis, Materia, Serpentine Pavilion e o Terminal de Cruzeiros de Lisboa

As disciplinas do design e da arquitectura também têm beneficiado das características únicas da cortiça. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de projectos nestas áreas tem também sido instrumental para a descoberta de usos alternativos para este material, criando assim uma relação simbiótica e de reciprocidade.

O projecto Metamorphosis, resultante de uma parceria entre a experimentadesign e a Corticeira Amorim, juntou 10 arquitectos e designers de renome – Alejandro Aravena, Álvaro Siza, Amanda Levete, Eduardo Souto de Moura, Herzog & de Meuron, James Irvine, Jasper Morrison, João Luís Carrilho da Graça, Manuel Aires Mateus e Naoto Fukasawa – para explorarem o potencial da cortiça através da criação de peças que utilizam este material de forma inovadora. O resultado final constitui uma impressionante variedade de obras que representam de forma única as vantagens da abordagem criativa às diferentes aplicabilidades da cortiça.

Cork Space, de Manuel Aires Mateus (2013) © Pedro Sadio & Maria Rita @that image

Materia é uma colecção de 24 objectos de design feitos de cortiça, lançada pela Corticeira Amorim e com curadoria da experimentadesign, que juntou 12 designers e estúdios de design de renome internacional. Com o objectivo central de valorizar a cortiça enquanto material e conquistar novos territórios e públicos, foi criada numa altura em que o papel e relevância da cortiça como um material aplicado ao design de produto estava ainda por explorar. Utilizando as mais avançadas tecnologias de produção de cortiça, esta linha de objectos foi conceptualizada para o uso diário, beneficiando das inigualáveis propriedades da cortiça. Englobando uma variedade de tipologias, constituem uma fusão entre inovação, funcionalidade e uma abordagem adequada às necessidades do dia-a-dia.

Produtos da colecção Materia © Pedro Sadio

Em 2012 a cortiça foi a protagonista de um dos marcos anuais de arquitectura com maior reconhecimento internacional, tendo sido a componente principal do Pavilhão de Verão da Serpentine Gallery desse ano, numa intervenção pública realizada nos jardins de Kensington, em Londres. A utilização deste material na estrutura circular de 80m² projectada por Herzog & de Meuron e Ai Weiwei contribuiu para a sua componente imersiva através das características inerentes do material – o cheiro evocativo, a cor acolhedora, a textura agradável e isolamento térmico, que criaram uma sensação de frescura e tranquilidade no pico do verão.

Pavilhão de Verão da Serpentine Gallery, por Herzog & de Meuron and Ai Weiwei (2012) © Iwan Baan

O novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa, desenhado pelo arquitecto João Luís Carrilho da Graça, juntou a Corticeira Amorim, a Secil e a Universidade de Coimbra no desenvolvimento de um novo tipo de betão estrutural branco e leve incorporando granulado de cortiça, usado nas fachadas do edifício. O composto criado permitiu reduzir o peso da estrutura do edifício, mantendo a sua resistência, e melhorar o seu conforto e eficiência energética, dada a capacidade térmica da cortiça.

Terminal de Cruzeiros de Lisboa, por João Luís Carrilho da Graça (2017) © Pedro Sadio

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INFRA-ESTRUTURAS

Construção e Energia

Os grandes empreendimentos de construção civil, como pontes, aquedutos, barragens ou aeroportos, precisam de assegurar que as alterações de temperatura e os movimentos de expansão e contracção que estas provocam não danificam as estruturas e materiais. A cortiça é um grande aliado neste trabalho, tendo a Corticeira Amorim inclusivamente criado uma gama vocacionada para a criação de produtos para aplicar nas junções de betão: a Expandacork.

Barragem com aplicação de cortiça

As energias renováveis também recorrem à cortiça no sentido de garantir o bom funcionamento das suas estruturas. As turbinas de energia eólica, por exemplo, contêm cortiça para a absorção de vibração, a manutenção de uma temperatura estável e o combate à condensação das lâminas, o que melhora a sua performance.

Turbinas eólicas com aplicações de cortiça

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REVESTIMENTOS

Pavimentos e Coberturas

As características da cortiça fazem com que seja ideal para uso em pavimentos e decorativos de parede. Neste sentido, são desenvolvidas soluções inovadoras, que combinam tecnologia de ponta com as incríveis propriedades naturais deste material. O resultado são pavimentos que além de assegurarem uma excelente performance a nível técnico, que permite a sua utilização em espaços residenciais e comerciais, proporcionam os incomparáveis benefícios da cortiça: reduzem o som de passos até 53%, proporcionando ambientes mais silenciosos; mantêm uma temperatura ideal durante todo o ano graças ao isolamento térmico natural deste material; são mais confortáveis ao caminhar; e mais resistentes aos impactos e choques.

A incorporação desta matéria-prima única e o processo produtivo ecológico associado a estes produtos resultam em várias soluções com pegada de carbono negativa, ajudando assim na redução do potencial de aquecimento global.

No fabrico destes pavimentos a Corticeira Amorim combina métodos tradicionais de produção com as mais recentes tecnologias, que permitem ir além dos tradicionais visuais de cortiça e produzir soluções com visuais diferenciados, como a madeira ou a pedra.

Revestimento de cortiça num espaço residencial.

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DESPORTO

Do Surf ao Futebol

Pela sua combinação de características, a cortiça é um material capaz de acrescentar valor também ao sector desportivo – e não apenas em terra. De facto, graças à sua capacidade de amortecimento, leveza, impermeabilidade, flexibilidade e durabilidade, este recurso natural contribui para uma maior resistência de equipamentos tão diversificados como pranchas de surf, caiaques e barcos.

Garrett McNamara, detentor do recorde mundial de maior onda alguma vez surfada, tem desde 2013 enfrentado as ondas da Nazaré com uma prancha de cortiça originária de uma parceria entre a Mercedes e a Corticeira Amorim. O surfista confia na resistência ao impacto que é conferida à prancha graças ao recurso a este material.

Prancha de Surf de Garrett McNamara

A cortiça oferece ainda um bom reforço à relva – tanto natural como artificial – utilizada nos campos de futebol. A utilização da cortiça melhora a performance desportiva, oferecendo uma alternativa natural e sustentável ao preenchimento dos relvados artificiais. Sendo a cortiça um material impermeável, sem toxicidade, com grande durabilidade e ainda capaz de minimizar impactos e de manter a temperatura em níveis inferiores aos de materiais tradicionais, diminuindo a necessidade de rega do relvado, esta opção cedo revelou ser uma boa aliada dos treinos e da manutenção.

Enchimento de relva artificial de cortiça © Ricardo Gonçalves

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CONSTRUIR O FUTURO

Biobuild, Quickbuild e Osirys

No âmbito do projecto Biobuild, a Corticeira Amorim tem desenvolvido soluções inovadoras e sustentáveis para edifícios. O portefólio desta iniciativa conta com painéis de isolamento térmico que garantem uma verdadeira separação climática entre interior e exterior; sistemas de revestimento de fachadas; opções amovíveis de divisão de espaços e ainda sistemas de tecto suspenso.

Com o projecto Quickbuild, a Corticeira Amorim desenvolve e apresenta um conjunto de opções de construção que primam pela rapidez, facilidade e sustentabilidade. O principal foco deste projecto é oferecer a opção de construção de uma casa completa. Através de um sistema de construção modular, é possível obter um edifício térreo, sob a forma de um T2 pré-fabricado, que é sustentável e opera segundo o conceito de custo total durante o ciclo de vida (“total life cycle cost”). O processo de fabrico da construção modular é versátil, sendo possível executar partes da produção em Portugal e implementar os acabamentos directamente na casa. A par deste sistema de habitação, o projecto Quickbuild desenvolve ainda uma aplicação informática dedicada ao design, planeamento e orçamentação de cada uma destas construções.

Osirys é um projecto internacional da autoria de um consórcio que inclui a Amorim Aglomerados Compósitos que tem como principal objectivo a melhoria da eficiência energética e da qualidade do ar no interior dos edifícios. Destinadas tanto a habitações como a restauração, as soluções oferecidas pelo projecto passam pela reabilitação de fachadas e paredes interiores como recurso a materiais ecológicos. As unidades de Isolamentos e de Aglomerados Compósitos da Corticeira Amorim têm tido a seu cargo o desenvolvimento de painéis com cortiça melhorados no que toca à resistência ao fogo e à protecção antifúngica; e a criação de materiais de absorção sonora com base em cortiça.

Projecto Osirys

Para mais informações, visite amorim.com.